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Mais um Lovejoy no céu
Consegui um registro desse cometa por volta das 23 horas de 27-dez-2014. Surpreendeu-me a definição da cauda, mesmo debaixo da pesada poluição luminosa da cidade. Segue a foto:

Cometa C/2014 Q2 (Lovejoy), 27dez2014 ~23:00 h. (DST), Stack 65 fotos, 55mm, 6400 ISO, 4 seg., f 5.6.
Mais:
Informações (Wikipedia)
Posição
Fotos: Gerald Rhemann (SpaceWeather), Gerald Rhemann – Comets
Q2 atingiu o ponto de máxima aproximação da Terra em 07-jan-2015. A foto abaixo mostra o cometa um dia após o perigeu, em 08-jan-2015, quando a lua passa novamente a não concorrer com seu tênue brilho. Ainda assim, estamos sob a alta poluição luminosa da cidade. Há definição de pelo menos 6º de cauda.
Em 13-jan-2015. Esse stack inaugura rastreamento manual na obtenção das fotos. Inicialmente consegui registros com 15 e 30 segundos de exposição. Ainda assim, a cauda só surge com ISO acima de 3200. Quando o tempo de exposição pode ser arbitrariamente aumentado, céus escuros tornam-se ainda mais necessários. Q2 ainda aumenta o brilho, mas a cauda apresenta-se cada vez mais tênue. Além disso, a janela de observação começa reduzir.
Em 17-jan-2015. Q2 passa próximo das Plêiades (M45). Essa é um stack de 23 fotos, 70mm, 6400 ISO, f/4.0, 4 seg., sem rastreamento. A cauda do cometa está saindo do alcance das fotos na cidade. Veja o que é possível registrar em céus realmente escuros e mais tempo de exposição: Alan Dyer
Rosetta e o cometa 67P/C-G
A sonda Rosetta ainda está em fase de aproximação e desde 27-ago-2014, quando a distância ao cometa ficou abaixo dos 50 Km, as imagens obtidas pela NAVCAM deixaram de capturar o cometa como um todo e passaram a ser publicadas em um mosaico contendo 4 imagens.
Como informado pelo própria equipe (veja em blog-rosetta-270814), a junção dessas imagens não é tão simples pois elas não são tomadas em um mesmo instante. Em 01-set-2014 o blog sugere (blog-rosetta-010914) que os leitores tentem gerar o mosaico.
Bem, depois desse longo tempo, aqui vai minha tentativa, usando as imagens publicadas ontem e também as de 02-out-2014 (originais em blog-rosetta-101014 e blog-rosetta-021014):

Uma das câmeras da Philae fotografou o céu, pousada em algum lugar do cometa 67P/C-G, 12-nov-2014. Crédito: ESA/Rosetta/Philae/CIVA
Site/Rosetta: http://rosetta.esa.int/
A desintegração do cometa C/2012 S1 (ISON)
Esse é o resumo do IAU (International Astronomical Union) sobre a saga do S1.
Uma frota de sondas espaciais acompanhava os eventos de vários ângulos, mas a SDO (Solar Dynamics Observatory), que detinha a melhor resolução, não foi capaz de registrar o cometa que já chegou ao seu campo de visão sem um núcleo ativo.
Abaixo, uma animação contendo 103 fotos da câmera LASCO C3 do SOHO (Solar and Heliospheric Observartory), entre 27-nov 02:30 UTC e 01-dez 08:30 UTC, mostra a drástica transformação de um cometa em uma nuvem de poeira.
Links externos:
CBET 3731 – IAU
ESA/NASA/SOHO
Vídeos:
CIOC – STEREO-A e B

LASCO C3 – 27-nov-2013 02:30 UTC / 01-dez-2013 08:30 UTC, intervalo ~1 hora; Crédito: ESA/NASA/SOHO
Esta é a imagem obtida pelo coronógrafo do SOHO (aparelho usado para observar a coroa solar). O círculo azul central é usado para ocultar o Sol. A circunferência branca traçada nesse círculo indica a posição e tamanho do Sol e o traço escuro visto no primeiro quadrante é a haste que fixa esse círculo. Esta sonda faz uma órbita em torno de um ponto que fica entre a linha que une o Sol e a Terra, chamado de ponto L1 de Lagrange, que fica ~4 vezes mais distante da Terra que a Lua.
O Sol, oculto pelo disco, é o nada tranquilo objeto responsável pelas explosões que irradiam do centro – as chamadas CME’s (Coronal Mass Ejections).
O campo de estrelas que é visto ao fundo desloca-se à medida que a nave gira em torno do Sol, ~1 grau por dia. Como tem o mesmo período da Terra, o mesmo campo de estrelas tornará a surgir nas imagens após uma órbita, ou seja, um ano.
A estrela mais brilhante que aparece na metade inferior da imagem é Antares, alfa de Escorpião. Ela apresenta um traço horizontal (lembra o planeta Saturno) que é característico do sensor quando a luminosidade do objeto é acima de um dado valor. Esse mesmo traço surge também no cometa justamente durante o aumento do brilho que é tido como início da ruptura do núcleo (~15:00 UTC, 27-nov).
Os pequenos riscos e “chuviscos” que aparecem na imagem são provocados por partículas eletricamente carregadas quando atingem o sensor. Elas são provenientes principalmente do Sol.
Durante a desintegração, o núcleo deixa um rastro de detritos que aparece como um traço brilhante acima da cauda do cometa e que, ao contrário da cauda, marca muito precisamente a órbita traçada pelo cometa.
Três horas antes do periélio, o núcleo do cometa já não era mais ativo. Isto marca o fim da desintegração que, na imagem, acontece momentos antes de ser ocultado pelo disco.
A parte mais densa da nuvem de poeira que surge do outro lado do disco, após o periélio, segue a órbita original do cometa. O HST (Hubble Space Telescope) está programado para fotografar esse objeto em meados de dezembro.
S1-ISON no campo de visão da STEREO-A
A STEREO-A acaba de divulgar suas primeiras imagens, uma curta animação que mostra o cometa entrando no campo de visão dos instrumentos: STEREO-A, S1 e 2P/Encke (www.isoncampaign.org – CIOC) [link externo].
Como se vê, S1 entra no campo pela borda esquerda. O cometa 2P/Encke, que também está na imagem, exibe o comportamento frenético da cauda quando esta interage com o vento solar.
É justamente agora, quando S1 sai do nosso alcance, que as sondas começam, uma a uma, a tê-lo no campo de visão de suas câmeras. Será possível acompanhar toda essa fase através da internet, quase em tempo real.
Abaixo, os registros que fiz em 21 e 22-nov durante outra breve oportunidade de céu claro. Talvez estes sejam os últimos, considerando que o cometa está nascendo dentro do amanhecer e a previsão é de tempo fechado por aqui.
Embora as fotos sugiram que o cometa estivesse razoavelmente fácil de se ver, a realidade nos conta que sua magnitude, que girava em torno de 4,xx, não foi suficiente para vislumbre à olho nu devido à baixa altura e um céu já claro pela início da alvorada. Durante toda a fase de aproximação, em nenhum momento pude observar o cometa sem o auxílio de binóculos.
Links externos:
ISON, Encke and Mercury – Karl Battams (CIOC)
UPDATE: New ISON and Encke Movie – Karl Battams (CIOC)
SOHO – Solar and Heliospheric Observatory (NASA)
SDO’s Comet ISON Perihelion Event Website (NASA)
Fotos:
21-nov, Juan Carlos Casado
21-nov, Gerald Rhemann

21-nov-2013 – 04:54 (06:54 UTC); 70mm – F/4, 1600 ISO – 3 seg., foto única, sem rastreamento. S1: 7º de altura; Sol: -12,7º de altura.

21-nov-2013 04:44~04:49 (06:44~06:49 UTC); 300mm – F/5.6, 6400 ISO – 41×1,3 seg. stack, sem rastreamento.
O processamento desse stack contendo 21 fotos envolveu um bom trabalho manual, pois o número de estrelas necessário para o alinhamento automático pelo software (DSS – Deep Sky Stacker [link externo]) era insuficiente. Observe que chega a ser possível identificar estruturas na cauda do cometa. Compare com uma foto do mesmo dia feita por Pete Lawrence [link externo], um stack de 35 x 30 segundos (longo tempo de exposição implica em equipamento com rastreamento).
Considerando condições desfavoráveis como alta poluição luminosa, Lua e nuvens, é realmente interessante ver até onde se pode chegar com apenas câmera, tripé e o zoom de uma tele de 300mm (ou menos). Acoplar um sistema de rastreamento elevaria a qualidade dessas fotos a um outro patamar.

22-nov-2013 – 05:02 ~ 05:03 (07:02 ~ 07:03 UTC); 300mm – F/5.6, 6400 ISO – 21×1,3 seg. “stack”, sem rastreamento.

22-nov-2013 – 04:50 (06:50 UTC); 70mm – F/4, 6400 ISO – 4 seg., foto única, sem rastreamento. S1: 4,4º de altura; Sol: -13,5º de altura.

22-nov-2013 – 04:41 (06:41 UTC); 300mm – F/5.6, Hi2 ISO – 1,6 seg., foto única, sem rastreamento. S1: apenas 2,5º de altura; Sol: -15,3º de altura.

22-nov-2013 04:59 (06:59 UTC); 95mm – F/4, 6400 ISO – 2 seg., foto única, sem rastreamento. Mercúrio aparece nessa foto quase na linha do horizonte, com apenas 1,86º de altura, entre as torres dos dois prédios e à esquerda do centro da foto.

















S1-ISON: Mergulhando no alvorecer
As imagens abaixo são do dia 16-nov-2013, em uma oportunidade das raras noites de céu claro que tem feito em novembro.
S1 começa a ficar menos de 15º acima do horizonte leste quando o dia começa a clarear. A Lua cheia alcançou o cometa e, de agora em diante, também passa a interferir. De 17 a 22-nov, nascerá nos seguintes horários (“Horário Brasileiro de Verão”): 3:56; 4:02; 4:08; 4:14; 4:21; 4:29. A partir daí, se nenhum novo evento ocorrer, será um alvo muito difícil de se observar.
E para quem estiver abaixo dos ~10º de latitude sul, a janela de observação estará finalizada: ao contornar o Sol, S1 descreverá uma trajetória aparente que o colocará sempre no céu diurno.
Links externos (fotos):
15-nov(D.Peach)
16-nov(Waldemar Skorupa)
Spaceweather















Dois cometas e as estrelas
Doze de novembro de 2013 e S1, que há dez dias cruzou a órbita da Terra, agora cruza a órbita de Vênus. Cerca de 40 milhões de quilômetros em 10 dias. Segue acelerando. Os próximos 40 milhões fará em 8 dias e 4 dias depois deixará para trás a órbita de Mercúrio: entre S1 e Sol, mais nenhum planeta. Será então 24-nov-2013.
O cometa vê em sua frente um Sol 3,3 maior e fervendo 11 vezes mais forte que aqui na Terra. Um ambiente bem tranquilo, se considerarmos o que lhe espera. Deste ponto, apenas 4 dias separam S1 de sua máxima aproximação do Sol, o periélio.
Vinte e oito de novembro de 2013, 18:37 TT (~UTC). O Sol irradia 6,4 mil vezes mais forte que em nosso planeta e, com um diâmetro de 40º, parece 77 vezes maior que o que vemos aqui. Uma onda térmica avança da superfície para o centro do cometa, tentando elevar sua temperatura para a casa de quase 3 mil graus Celsius. Nesse ambiente hostil, S1 brilhará furiosamente, volatizando o material que resistiu até aqui.
Durante ~1 hora o pequeno S1, estimado entre 2 km a 200 m de raio, contornará o Sol a quase 400 km/s em uma frenética corrida para a sobrevivência. Mas o objeto de bilhões de anos pode deixar de existir durante essa curta visita.
S1 não está gravitacionalmente preso ao gigante ao seu lado. Sua órbita é hiperbólica, indicando que é um visitante de fora do sistema solar, veio das estrelas e, se sobreviver, retornará para as estrelas. Certamente não sem levar as marcas de que esteve por aqui.

C/2012-S1 (ISON), 12-nov-2013 ~ 5:00 h (15 a 20º acima do horizonte – alvorada)., 51stackstars, 2 seg., ISO 6400, Tele 300mm, sem rastreamento.

C/2013-R1 (Lovejoy), 12-nov-2013 4:00~4:50 h. (27 a 34º acima do horizonte), 50stackstars, 2 seg., ISO 6400, Tele 300mm, sem rastreamento.
Está cheio de cometas!
Relativamente alto no céu e até ontem mais brilhante que o S1, no céu da madrugada também habita o C/2013-R1-Lovejoy. Está cruzando a linha que separa as constelações, indo de Cancer para Leo.
Veja abaixo:
Quanto anda um cometa?
Este cometa é um rasante solar que, no periélio, passará “raspando” por nossa estrela a 1,165 milhões de quilômetros de sua superfície, ou seja, errará o Sol por menos de 1 diâmetro solar.
Experimenta assim praticamente os mesmos efeitos de uma queda-livre. Sua velocidade em relação ao Sol saltará dos atuais 44 Km/s para algo perto de 8 vezes esse número, ou seja, quando S1 fizer sua curva ao redor do Sol, em 28-nov-2013, estará correndo a 370 Km/s (~1,3 milhões de km/h, ~1 milésimo da velocidade da luz), velocidade suficiente para cobrir a distância de uma ponta à outra da estrela em 1 hora.
Tão rápido e tão próximo do Sol que poderá desintegrar-se, embora astrônomos considerem que a chance de sobrevivência seja maior.
Links externos:
Rasante solar
C/2012-S1-ISON, Wikipedia
The Sky Live – ISON-tracker
JPL Small-Body Database Browser – C/2012 S1-ISON








O tênue brilho do cometa C/2012 S1-ISON
É o que se espera de um objeto que está se aproximando do Sol e também da Terra. E quando o brilho é baixo, procuramos céus escuros e “castigamos” no tempo de exposição. Já dentro da poluição luminosa da cidade e sem rastreamento, a alternativa é fazer várias fotos de curta duração e com o ISO lá em cima, ainda que isso acabe por gerar fotos com muito ruído.
S1 coloca ainda mais um desafio, pois já está se deslocando rápido entre as estrelas. Um minuto de diferença já causa um deslocamento perceptível através da tele de 300mm.
O pós-processamento que trata de dar conta de tudo isso é o image stacker. Centrado nas estrelas, o cometa desliza e aparece disforme. Centrado no cometa, as estrelas é que deslizam, deixando um rastro característico.
Veja abaixo o que 146 fotos foram capazes de gerar:
(Passe o mouse sobre a foto para ver as versões fixadas no cometa e nas estrelas)
Abaixo, stack de 86 fotos, normal e invertida (passe o mouse sobre a foto)
S1-ISON, movendo-se em direção ao Sol
O registro é de 27-out-2013. O S1, cuja previsão de brilho era bem maior que a que apresenta, cumpre agora a última etapa de sua aproximação do Sol sem ainda estar ao alcance sequer de binóculos. Somente quando a sensibilidade atingiu magnitudes tão tênues como 12 é que as fotos começaram a registrar o cometa. Nesses níveis, até algumas galáxias já surgiam nas fotos. Para chegar a isso, foram necessárias algumas dezenas de fotos processadas “empilhadas” (stack).
Os próximos 30 dias devem contar-nos se algo mais poderá ainda ocorrer para tirar o S1 da escuridão. A recente explosão do C2013 R1 Lovejoy está aí para mostrar o quanto cometas são imprevisíveis.
Links externos:
Alfons Diepvens
CIOC
Um cometa no perigeu

Dados: Exp 3.2 seg; F/7.1; ISO 800; Objetiva 177.0 mm; 05-mar-2013; pos-processamento “stack” 4 fotos, wb-3500T.

Dados: Exp 1.0 seg; F/5.6; ISO 800; Objetiva 300.0 mm; 05-mar-2013; pos-processamento “stack” 6 fotos, wb-3500T, alto contraste.


O gráfico abaixo, superposto à foto obtida em 4-mar, mostra a trajetória aparente que o cometa descreverá. É uma projeção que considera um observador olhando o céu exatamente sempre na mesma hora (neste caso, a hora da foto feita em 4-mar, ou seja, 21:50:08 UTC).
Visitante longínguo (atualização)
A previsão para o seu brilho máximo, que chegou a girar em torno de magnitude zero, foi rebaixada: os relatos atuais apontam que a magnitude do cometa está entre +2 e +3. O perigeu ocorrerá em 05-mar-2013 e o periélio em 10-mar-2013.
L4 está muito baixo no horizonte oeste e dentro da luminosidade do enterdecer. É um alvo muito difícil de ser visto a olho nú, especialmente sob a pesada poluição luminosa das cidades, mas mostra-se bem interessante se visto por um binóculo.
Havia marcado aqui a tentativa de registros fotográficos até o dia 02-mar, mas os últimos dias foram de chuva. A sorte é que, para nossa latitude (-20 º), a janela de observação do L4 ainda está aberta e o tempo limpou bem hoje.

Dados: Exp 3 seg; F/5.6; ISO 320; Objetiva 55.0 mm; 04-mar-2013 18:50:08 (21:50:08 UTC); pos-processamento aumento contraste; L4 +5.47 ° Alt; Sol -11.14 ° Alt
A foto abaixo é uma composição de 4 fotos, obtidas com os mesmos parâmetros da foto anterior:
(Passe o mouse sobre a foto)



Visitante longínquo
Trata-se do C/2011 L4 PANSTARRS. Embora previsão de brilho de cometas seja matéria conhecidamente pouco confiável, os melhores números das tábuas apontam para valores perto de magnitude zero. Isso é mais brilhante que a Estrela de Magalhães, a Acrux (o “pé” do Cruzeiro do Sul), o que justifica o burburinho que anda causando nos fóruns de astronomia. Já o verdadeiro alvoroço fica por conta do C/2012 S1 ISON (novembro/2013), cuja previsão de brilho é realmente impressionante, mas deixemos isso para mais adiante.
L4 hoje já é um objeto passível de ser visto a olho nu durante os últimos instantes da madrugada e início do alvorecer. Não permanecerá aí por muito tempo, pois já está mergulhando na claridade da manhã e fazendo sua transição do céu da madrugada para o céu do entardecer. As fotos abaixo mostram o que pude conseguir debaixo da grande poluição luminosa da cidade.
O sobrevivente
Lovejoy é um rasante-solar, considerado um “irmão” do Ykeya-Seki, o grande cometa de 1965 e tido como provável mais brilhante do último milênio. Chamados irmãos por derivarem de um mesmo objeto, um cometa verdadeiramente grande que se partiu há tempos remotos e deixou incontáveis fragmentos de não menos incontáveis tamanhos, todos seguindo uma órbita muito próxima a do cometa “pai”, gerando uma “família” de cometas rasantes-solares.
A cada semana, dois ou mais desses fragmentos menores são captados pelos olhos eletrônicos de sondas espacias que vivem para espreitar o Sol. Praticamente todos têm o mesmo destino: serem vaporizados. Um instante que finaliza uma existência de, provavelmente, bilhões de anos.
Se considerar que nossa estrela tem um diâmetro equivalente a duas unidades, o raio solar terá uma unidade. Um rasante-solar desses não passa a mais de 1,2 raios solares do astro-rei. É essa região, dominada por temperaturas que chegam a casa do milhões de graus celsius, acrescida da intensa radiação recebida de um sol tão próximo que faz o trabalho de subtrair mais um cometa dos céus. Nos momentos finais, os mini-cometas, que nunca foram registrados antes por qualquer instrumento humano, viram alvo fácil pois passsam a brilhar intensamente até desaparecem.
Quase todos seguem a mesma trilha. Os fragmentos maiores contam histórias diferentes. Ikeya-Seki foi um deles. Também o grande cometa de 1843 e outros. Desafiam o Sol, aproximam-se e o contornam para então retornarem aos confins do sistema solar. E nessa passagem deixam seus nomes em toda sorte de registros humanos, dos antigos aos novos, como o grande cometa que brilhou, dominou os céus e as atenções, surpreendeu e assustou, ficou visível durante o dia.
Dez entre dez especialistas apostavam que Lovejoy, apesar de um pouco maior, seguiria o destino de sucumbir ao Sol. Mas o C/2011 W3 veio para contar a sua própria história. No dia 16dez2011 contornou o Sol e não só sobreviveu, mas ressurgiu do outro lado ainda mais brilhante. Novamente, muita gente ficou espantada enquanto outras tantas precisam ainda explicar como um objeto desses resistiu aos milhões de graus celsius por mais de uma hora.
Fato é que, logo após contornar o Sol, Lovejoy tornou-se um objeto observável para os habitantes do hemisfério sul do nosso planeta, durante os momentos que antecedem o amanhecer. E posso dizer que em mais de 20 anos ele é, se não o maior, dos maiores cometas observáveis nesse hemisfério, embora não seja o mais brilhante.
Curioso como um objeto assim não tenha atraído sequer uma fração da atenção despertada pelo famoso cometa Halley, em 1986, cuja aparição foi infinitamente menos interessante. Sem contar o simbolismo natalino incorporado pelo Lovejoy. Uma justificativa é a de que a poluição luminosa das cidades praticamente impede sua visualização, mas com um brilho ligeiramente superior ao da Via-Lactea e mais de 15 graus de extensão da cauda de poeira, é objeto impressionante para qualquer zona, mesmo que apenas ligeiramente afastada dos centros urbanos. Nos céus estrelados do interior, torna-se espetáculo garantido.
Entretanto, a fase mais brilhante já passou. O cometa está afastando-se do Sol e perde brilho rapidamente, desaparecendo gradativamente à medida que os dias se sucedem. Enquanto isso não ocorre definitivamente, acordar uma hora antes do Sol nascer e um céu com pouco poluição luminosa é o suficiente para observar a mais nova “Estrela de Belém”, até que retorne… daqui a 678 anos!