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Mais um Lovejoy no céu

O fim deste ano trouxe junto um novo cometa. É o 5º descoberto por T. Lovejoy e atende pelo nome de C/2014 Q2 (Lovejoy). Q2 tem um brilho muito fraco, embora esteja na faixa de visibilidade a olho nu, desde que em locais apropriadamente escuros.

Consegui um registro desse cometa por volta das 23 horas de 27-dez-2014. Surpreendeu-me a definição da cauda, mesmo debaixo da pesada poluição luminosa da cidade. Segue a foto:

Cometa C/2014 Q2 (Lovejoy), 27dez2014 ~23:00 h. (DST), Stack 65 fotos, 55mm, 6400 ISO, 4 seg., f 5.6.

Cometa C/2014 Q2 (Lovejoy), 27dez2014 ~23:00 h. (DST), Stack 65 fotos, 55mm, 6400 ISO, 4 seg., f 5.6.

Mais:
Informações (Wikipedia)
Posição
Fotos: Gerald Rhemann (SpaceWeather), Gerald Rhemann – Comets

Atualização-1

Q2 atingiu o ponto de máxima aproximação da Terra em 07-jan-2015. A foto abaixo mostra o cometa um dia após o perigeu, em 08-jan-2015, quando a lua passa novamente a não concorrer com seu tênue brilho. Ainda assim, estamos sob a alta poluição luminosa da cidade. Há definição de pelo menos 6º de cauda.

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Cometa C/2014 Q2 (Lovejoy), 08jan2015 23:30 UTC, Stack 101 fotos, 55mm, 6400 ISO, 4 seg., f 5.6.

Atualização-2

Em 13-jan-2015. Esse stack inaugura rastreamento manual na obtenção das fotos. Inicialmente consegui registros com 15 e 30 segundos de exposição. Ainda assim, a cauda só surge com ISO acima de 3200. Quando o tempo de exposição pode ser arbitrariamente aumentado, céus escuros tornam-se ainda mais necessários. Q2 ainda aumenta o brilho, mas a cauda apresenta-se cada vez mais tênue. Além disso, a janela de observação começa reduzir.

c2014-q2-lovejoy.150113 2120UTC-average-merge-logsqrt-0-86_5-16-77_8-0-29_8-1024-equ

Atualização-3

Em 17-jan-2015. Q2 passa próximo das Plêiades (M45). Essa é um stack de 23 fotos, 70mm, 6400 ISO, f/4.0, 4 seg., sem rastreamento. A cauda do cometa está saindo do alcance das fotos na cidade. Veja o que é possível registrar em céus realmente escuros e mais tempo de exposição: Alan Dyer

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Cometa C/2014 Q2 (Lovejoy), 17jan2015 23:34 UTC, Stack 23 fotos, 70mm, 6400 ISO, 4 seg., f/4.0. Obs: o canto superior direito dessa foto, logo acima de uma banda diagonal escura, é um espelhamento do restante da foto. Recurso foi usado para manter a orientação equatorial da imagem e o aspecto.

Rosetta e o cometa 67P/C-G

Acompanhando o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko desde 6-ago-2014, a sonda Rosetta tem enviado imagens estonteantes desse objeto que tem cerca de 4,5 Km em seu eixo maior.

A sonda Rosetta ainda está em fase de aproximação e desde 27-ago-2014, quando a distância ao cometa ficou abaixo dos 50 Km, as imagens obtidas pela NAVCAM deixaram de capturar o cometa como um todo e passaram a ser publicadas em um mosaico contendo 4 imagens.

Como informado pelo própria equipe (veja em blog-rosetta-270814), a junção dessas imagens não é tão simples pois elas não são tomadas em um mesmo instante. Em 01-set-2014 o blog sugere (blog-rosetta-010914) que os leitores tentem gerar o mosaico.

Bem, depois desse longo tempo, aqui vai minha tentativa, usando as imagens publicadas ontem e também as de 02-out-2014 (originais em blog-rosetta-101014 e blog-rosetta-021014):

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Mosaico do cometa 67P/C-G, 08-out-2014, 16,9 Km de distância. Crédito: ESA/Rosetta/NAVCAM

ESA_Rosetta_NAVCAM_20140926_A-B-C-D-(rectilinear-hugin)

Mosaico do cometa 67P/C-G, 26-set-2014, 26,3 Km de distância. Crédito: ESA/Rosetta/NAVCAM

Deixei as bordas para se ter uma ideia das distorções aplicadas em cada imagem. O mosaico foi feito utilizando o Hugin (site para o Hugin), um excelente software para geração de projeções panorâmicas. As distorções causadas pela defasagem de tempo entre a tomada de cada foto exigem que os pontos de controle sejam ajustados manualmente. O resultado final ultrapassou minhas expectativas.
141112-philae-sky-window

Uma das câmeras da Philae fotografou o céu, pousada em algum lugar do cometa 67P/C-G, 12-nov-2014. Crédito: ESA/Rosetta/Philae/CIVA

Site/Rosetta: http://rosetta.esa.int/

A desintegração do cometa C/2012 S1 (ISON)

Em 27-nov-2013 ~15:00 UTC, aproximadamente 27 horas antes do cometa “ISON” chegar ao ponto mais próximo do Sol, seu núcleo começou a entrar em colapso culminando com a desintegração do cometa que, agora, mostra-se apenas como uma nuvem de poeira.

Esse é o resumo do IAU (International Astronomical Union) sobre a saga do S1.

Uma frota de sondas espaciais acompanhava os eventos de vários ângulos, mas a SDO (Solar Dynamics Observatory), que detinha a melhor resolução, não foi capaz de registrar o cometa que já chegou ao seu campo de visão sem um núcleo ativo.

Abaixo, uma animação contendo 103 fotos da câmera LASCO C3 do SOHO (Solar and Heliospheric Observartory), entre 27-nov 02:30 UTC e 01-dez 08:30 UTC, mostra a drástica transformação de um cometa em uma nuvem de poeira.

Links externos:
CBET 3731 – IAU
ESA/NASA/SOHO

Vídeos:
CIOC – STEREO-A e B


LASCO C3 – 27-nov-2013 02:30 UTC / 01-dez-2013 08:30 UTC, intervalo ~1 hora; Crédito: ESA/NASA/SOHO


Observações:

Esta é a imagem obtida pelo coronógrafo do SOHO (aparelho usado para observar a coroa solar). O círculo azul central é usado para ocultar o Sol. A circunferência branca traçada nesse círculo indica a posição e tamanho do Sol e o traço escuro visto no primeiro quadrante é a haste que fixa esse círculo. Esta sonda faz uma órbita em torno de um ponto que fica entre a linha que une o Sol e a Terra, chamado de ponto L1 de Lagrange, que fica ~4 vezes mais distante da Terra que a Lua.

O Sol, oculto pelo disco, é o nada tranquilo objeto responsável pelas explosões que irradiam do centro – as chamadas CME’s (Coronal Mass Ejections).

O campo de estrelas que é visto ao fundo desloca-se à medida que a nave gira em torno do Sol, ~1 grau por dia. Como tem o mesmo período da Terra, o mesmo campo de estrelas tornará a surgir nas imagens após uma órbita, ou seja, um ano.

A estrela mais brilhante que aparece na metade inferior da imagem é Antares, alfa de Escorpião. Ela apresenta um traço horizontal (lembra o planeta Saturno) que é característico do sensor quando a luminosidade do objeto é acima de um dado valor. Esse mesmo traço surge também no cometa justamente durante o aumento do brilho que é tido como início da ruptura do núcleo (~15:00 UTC, 27-nov).

Os pequenos riscos e “chuviscos” que aparecem na imagem são provocados por partículas eletricamente carregadas quando atingem o sensor. Elas são provenientes principalmente do Sol.

Durante a desintegração, o núcleo deixa um rastro de detritos que aparece como um traço brilhante acima da cauda do cometa e que, ao contrário da cauda, marca muito precisamente a órbita traçada pelo cometa.

Três horas antes do periélio, o núcleo do cometa já não era mais ativo. Isto marca o fim da desintegração que, na imagem, acontece momentos antes de ser ocultado pelo disco.

A parte mais densa da nuvem de poeira que surge do outro lado do disco, após o periélio, segue a órbita original do cometa. O HST (Hubble Space Telescope) está programado para fotografar esse objeto em meados de dezembro.

S1-ISON no campo de visão da STEREO-A

As sondas STEREO-A e B, SOHO e SDO estão programadas para fotografar o cometa C/2012 S1 (ISON) durante a fase crítica de aproximação do Sol. Projetadas para estudar o Sol, as imagens de grande valor científico nem sempre têm o apelo visual que a fotografia amadora busca.

A STEREO-A acaba de divulgar suas primeiras imagens, uma curta animação que mostra o cometa entrando no campo de visão dos instrumentos: STEREO-A, S1 e 2P/Encke (www.isoncampaign.org – CIOC) [link externo].

Como se vê, S1 entra no campo pela borda esquerda. O cometa 2P/Encke, que também está na imagem, exibe o comportamento frenético da cauda quando esta interage com o vento solar.

É justamente agora, quando S1 sai do nosso alcance, que as sondas começam, uma a uma, a tê-lo no campo de visão de suas câmeras. Será possível acompanhar toda essa fase através da internet, quase em tempo real.

Abaixo, os registros que fiz em 21 e 22-nov durante outra breve oportunidade de céu claro. Talvez estes sejam os últimos, considerando que o cometa está nascendo dentro do amanhecer e a previsão é de tempo fechado por aqui.

Embora as fotos sugiram que o cometa estivesse razoavelmente fácil de se ver, a realidade nos conta que sua magnitude, que girava em torno de 4,xx, não foi suficiente para vislumbre à olho nu devido à baixa altura e um céu já claro pela início da alvorada. Durante toda a fase de aproximação, em nenhum momento pude observar o cometa sem o auxílio de binóculos.

Links externos:
ISON, Encke and Mercury – Karl Battams (CIOC)
UPDATE: New ISON and Encke Movie – Karl Battams (CIOC)
SOHO – Solar and Heliospheric Observatory (NASA)
SDO’s Comet ISON Perihelion Event Website (NASA)

Fotos:
21-nov, Juan Carlos Casado
21-nov, Gerald Rhemann

21-nov-2013, sete dias antes do periélio:

21-nov-2013 – 04:54 (06:54 UTC); 70mm – F/4, 1600 ISO – 3 seg., foto única, sem rastreamento. S1: 7º de altura; Sol: -12,7º de altura.

21-nov-2013 04:44~04:49 (06:44~06:49 UTC); 300mm – F/5.6, 6400 ISO – 41×1,3 seg. stack, sem rastreamento.

22-nov-2013, seis dias antes do periélio:

O processamento desse stack contendo 21 fotos envolveu um bom trabalho manual, pois o número de estrelas necessário para o alinhamento automático pelo software (DSS – Deep Sky Stacker [link externo]) era insuficiente. Observe que chega a ser possível identificar estruturas na cauda do cometa. Compare com uma foto do mesmo dia feita por Pete Lawrence [link externo], um stack de 35 x 30 segundos (longo tempo de exposição implica em equipamento com rastreamento).

Considerando condições desfavoráveis como alta poluição luminosa, Lua e nuvens, é realmente interessante ver até onde se pode chegar com apenas câmera, tripé e o zoom de uma tele de 300mm (ou menos). Acoplar um sistema de rastreamento elevaria a qualidade dessas fotos a um outro patamar.

22-nov-2013 – 05:02 ~ 05:03 (07:02 ~ 07:03 UTC); 300mm – F/5.6, 6400 ISO – 21×1,3 seg. “stack”, sem rastreamento.

Idem, mostrando a cauda múltipla.

Outras fotos do dia 22-nov, mostrando a cidade e o cometa.

22-nov-2013 – 04:50 (06:50 UTC); 70mm – F/4, 6400 ISO – 4 seg., foto única, sem rastreamento. S1: 4,4º de altura; Sol: -13,5º de altura.

22-nov-2013 – 04:41 (06:41 UTC); 300mm – F/5.6, Hi2 ISO – 1,6 seg., foto única, sem rastreamento. S1: apenas 2,5º de altura; Sol: -15,3º de altura.

22-nov-2013 04:44 (06:44 UTC); 100mm – F/4, 6400 ISO – 6 seg., foto única, sem rastreamento.

22-nov-2012 04:57 (06:57 UTC); 95mm – F/4, 6400 ISO – 2 seg., foto única, sem rastreamento.

22-nov-2013 04:59 (06:59 UTC); 95mm – F/4, 6400 ISO – 2 seg., foto única, sem rastreamento. Mercúrio aparece nessa foto quase na linha do horizonte, com apenas 1,86º de altura, entre as torres dos dois prédios e à esquerda do centro da foto.

Sequência/animação: 04:46 ~ 04:53 (06:46 ~ 06:53 UTC).
A animação abaixo é baseada em um stack composto de 41 fotos. As imagens onde as estrelas aparecem como traços estão fixadas no cometa. Apenas duas imagens foram fixadas nas estrelas. A sequência mostra vários tipos de ajustes para realçar o cometa. Todas as fotos foram feitas com uma lente de 300mm – F/5.6, 6400 ISO – 1,2 segundos – câmera apenas em tripé.

S1-ISON: Mergulhando no alvorecer

S1 experimentou um aumento abrupto do brilho (outburst) em algum momento do dia 14-nov-2013, alcançando o limiar da visibilidade sem auxílio de instrumentos óticos. A atividade extra fez o cometa aumentar ~10 vezes o seu brilho. Amadores e profissionais divulgaram fotos registrando o desdobramento do evento. Algumas são simplesmente espetaculares.

As imagens abaixo são do dia 16-nov-2013, em uma oportunidade das raras noites de céu claro que tem feito em novembro.

S1 começa a ficar menos de 15º acima do horizonte leste quando o dia começa a clarear. A Lua cheia alcançou o cometa e, de agora em diante, também passa a interferir. De 17 a 22-nov, nascerá nos seguintes horários (“Horário Brasileiro de Verão”): 3:56; 4:02; 4:08; 4:14; 4:21; 4:29. A partir daí, se nenhum novo evento ocorrer, será um alvo muito difícil de se observar.

E para quem estiver abaixo dos ~10º de latitude sul, a janela de observação estará finalizada: ao contornar o Sol, S1 descreverá uma trajetória aparente que o colocará sempre no céu diurno.

Links externos (fotos):
15-nov(D.Peach)
16-nov(Waldemar Skorupa)
Spaceweather



Dois cometas e as estrelas

A campanha para registrar a passagem do C/2012 S1 (ISON) continua e, no caminho, passamos por outro cometa, um planeta e as estrelas.

Doze de novembro de 2013 e S1, que há dez dias cruzou a órbita da Terra, agora cruza a órbita de Vênus. Cerca de 40 milhões de quilômetros em 10 dias. Segue acelerando. Os próximos 40 milhões fará em 8 dias e 4 dias depois deixará para trás a órbita de Mercúrio: entre S1 e Sol, mais nenhum planeta. Será então 24-nov-2013.

O cometa vê em sua frente um Sol 3,3 maior e fervendo 11 vezes mais forte que aqui na Terra. Um ambiente bem tranquilo, se considerarmos o que lhe espera. Deste ponto, apenas 4 dias separam S1 de sua máxima aproximação do Sol, o periélio.

Vinte e oito de novembro de 2013, 18:37 TT (~UTC). O Sol irradia 6,4 mil vezes mais forte que em nosso planeta e, com um diâmetro de 40º, parece 77 vezes maior que o que vemos aqui. Uma onda térmica avança da superfície para o centro do cometa, tentando elevar sua temperatura para a casa de quase 3 mil graus Celsius. Nesse ambiente hostil, S1 brilhará furiosamente, volatizando o material que resistiu até aqui.

Durante ~1 hora o pequeno S1, estimado entre 2 km a 200 m de raio, contornará o Sol a quase 400 km/s em uma frenética corrida para a sobrevivência. Mas o objeto de bilhões de anos pode deixar de existir durante essa curta visita.

S1 não está gravitacionalmente preso ao gigante ao seu lado. Sua órbita é hiperbólica, indicando que é um visitante de fora do sistema solar, veio das estrelas e, se sobreviver, retornará para as estrelas. Certamente não sem levar as marcas de que esteve por aqui.

C/2012-S1 (ISON), 12-nov-2013 ~ 5:00 h (15 a 20º acima do horizonte – alvorada)., 51stackstars, 2 seg., ISO 6400, Tele 300mm, sem rastreamento.

Idem, ampliação-1

Idem, ampliação-2

Nesta mesma noite, o cometa C/2013 R1 (Lovejoy) mostrava-se mais brilhante que o S1.

C/2013-R1 (Lovejoy), 12-nov-2013 4:00~4:50 h. (27 a 34º acima do horizonte), 50stackstars, 2 seg., ISO 6400, Tele 300mm, sem rastreamento.

Idem, ampliação-1

9stackstars (“stack nas estrelas”).

Enquanto aguardava pelos cometas:

Júpiter

Júpiter e suas luas galileanas: Io, Europa, Ganymede e Callisto

Urano, exatamente no centro da imagem, em Peixes.

Plêiades.

Carina nebula, asterismo, aglomerados abertos.

47-Tucanae, aglomerado globular.

M42, nebulosa de Orion.

Está cheio de cometas!

Além do C/2012-S1-ISON, que enfim acusa sentir a proximidade da fornalha solar, há vários outros cometas passeando pelo sistema solar nesse momento.

Relativamente alto no céu e até ontem mais brilhante que o S1, no céu da madrugada também habita o C/2013-R1-Lovejoy. Está cruzando a linha que separa as constelações, indo de Cancer para Leo.

Veja abaixo:

Quanto anda um cometa?

S1 deslocou-se 1,7º entre 4 e 5 de novembro, ou seja, pouco mais que 3 diâmetros lunares. Mas amanhã a história já será outra.

Este cometa é um rasante solar que, no periélio, passará “raspando” por nossa estrela a 1,165 milhões de quilômetros de sua superfície, ou seja, errará o Sol por menos de 1 diâmetro solar.

Experimenta assim praticamente os mesmos efeitos de uma queda-livre. Sua velocidade em relação ao Sol saltará dos atuais 44 Km/s para algo perto de 8 vezes esse número, ou seja, quando S1 fizer sua curva ao redor do Sol, em 28-nov-2013, estará correndo a 370 Km/s (~1,3 milhões de km/h, ~1 milésimo da velocidade da luz), velocidade suficiente para cobrir a distância de uma ponta à outra da estrela em 1 hora.

Tão rápido e tão próximo do Sol que poderá desintegrar-se, embora astrônomos considerem que a chance de sobrevivência seja maior.


Links externos:
Rasante solar
C/2012-S1-ISON, Wikipedia
The Sky Live – ISON-tracker
JPL Small-Body Database Browser – C/2012 S1-ISON

(somente navegadores compatíveis com W3C – css/animation)

Composição dos dias 04 e 05 nov-2013 comparada com Cartes du Ciel e Google/sky.

O tênue brilho do cometa C/2012 S1-ISON

S1 ainda está muito fraco, mas conseguiu aumentar ligeiramente o seu brilho.

É o que se espera de um objeto que está se aproximando do Sol e também da Terra. E quando o brilho é baixo, procuramos céus escuros e “castigamos” no tempo de exposição. Já dentro da poluição luminosa da cidade e sem rastreamento, a alternativa é fazer várias fotos de curta duração e com o ISO lá em cima, ainda que isso acabe por gerar fotos com muito ruído.

S1 coloca ainda mais um desafio, pois já está se deslocando rápido entre as estrelas. Um minuto de diferença já causa um deslocamento perceptível através da tele de 300mm.

O pós-processamento que trata de dar conta de tudo isso é o image stacker. Centrado nas estrelas, o cometa desliza e aparece disforme. Centrado no cometa, as estrelas é que deslizam, deixando um rastro característico.

Veja abaixo o que 146 fotos foram capazes de gerar:

(Passe o mouse sobre a foto para ver as versões fixadas no cometa e nas estrelas)

A mágica do stacker reside na melhoria da relação sinal/ruído (SNR). Até mesmo a cauda do cometa é vista nessas fotos. Digno de nota, o cometa não está visível nem através de um binóculo 12×50.

Abaixo, stack de 86 fotos, normal e invertida (passe o mouse sobre a foto)

Stack 86x~2 seg., tele 300mm – F/5.6, ISO 3200-6400, sem rastreamento, entre 6:26 e 7:00 (UTC) de 04nov2013.

S1-ISON, movendo-se em direção ao Sol

O objeto que se move próximo ao centro dessa animação é, por incrível que pareça, o cometa C/2012-S1 ISON.

O registro é de 27-out-2013. O S1, cuja previsão de brilho era bem maior que a que apresenta, cumpre agora a última etapa de sua aproximação do Sol sem ainda estar ao alcance sequer de binóculos. Somente quando a sensibilidade atingiu magnitudes tão tênues como 12 é que as fotos começaram a registrar o cometa. Nesses níveis, até algumas galáxias já surgiam nas fotos. Para chegar a isso, foram necessárias algumas dezenas de fotos processadas “empilhadas” (stack).

Os próximos 30 dias devem contar-nos se algo mais poderá ainda ocorrer para tirar o S1 da escuridão. A recente explosão do C2013 R1 Lovejoy está aí para mostrar o quanto cometas são imprevisíveis.

Links externos:
Alfons Diepvens
CIOC

Sequência obtida entre 6:35 e 7:10 (UTC) do dia 27out2013.

Para ver a foto do Google/sky dessa região do céu, passe o mouse sobre a foto abaixo

Stack 10×2 seg., tele 300mm -F/5.6, ISO 3200, sem rastreamento, entre 7:01 e 7:03 (UTC) de 27out2013.

Um cometa no perigeu

PanSTARRS atingiu o perigeu hoje, 5-mar-2013. Segue mais registros dessa data:

Dados: Exp 3.2 seg; F/7.1; ISO 800; Objetiva 177.0 mm; 05-mar-2013; pos-processamento “stack” 4 fotos, wb-3500T.

Dados: Exp 1.0 seg; F/5.6; ISO 800; Objetiva 300.0 mm; 05-mar-2013; pos-processamento “stack” 6 fotos, wb-3500T, alto contraste.

Abaixo, uma composição da posição relativa do cometa nos dias 4 e 5 de março. Observe que L4 está “correndo rápido” no céu (aproximadamente 2.6 º por dia) e a cauda do cometa, que tem direção oposta ao Sol, inclina-se à medida que o astro percorre sua órbita. Este fato pode ser visto nessas imagens, onde a projeção da cauda em cada dia parece apontar para um radiante abaixo do horizonte. De forma muito próxima, esse ponto é a posição do Sol.

(passe o mouse sobre a foto)
A posição do cometa no dia 5-mar, à direita nas fotos acima, têm por referência o fundo das estrelas e não a linha do horizonte (vermelha). É preciso notar que as estrelas se movem aproximadamente um grau por dia (movimento aparente devido à translação da Terra) e, ao contrário do que sugere essas composições, o cometa não está “subindo” no céu, e sim perdendo altura.

O gráfico abaixo, superposto à foto obtida em 4-mar, mostra a trajetória aparente que o cometa descreverá. É uma projeção que considera um observador olhando o céu exatamente sempre na mesma hora (neste caso, a hora da foto feita em 4-mar, ou seja, 21:50:08 UTC).

Por esse gráfico podemos inferir que será muito difícil observar o cometa depois do dia 7-mar, pois estará irremediavelmente muito baixo no horizonte.

Visitante longínguo (atualização)

C/2011 L4 PanSTARRS está no céu da tarde, mas é um alvo difícil de ser observado.

A previsão para o seu brilho máximo, que chegou a girar em torno de magnitude zero, foi rebaixada: os relatos atuais apontam que a magnitude do cometa está entre +2 e +3. O perigeu ocorrerá em 05-mar-2013 e o periélio em 10-mar-2013.

L4 está muito baixo no horizonte oeste e dentro da luminosidade do enterdecer. É um alvo muito difícil de ser visto a olho nú, especialmente sob a pesada poluição luminosa das cidades, mas mostra-se bem interessante se visto por um binóculo.

Havia marcado aqui a tentativa de registros fotográficos até o dia 02-mar, mas os últimos dias foram de chuva. A sorte é que, para nossa latitude (-20 º), a janela de observação do L4 ainda está aberta e o tempo limpou bem hoje.

Dados: Exp 3 seg; F/5.6; ISO 320; Objetiva 55.0 mm; 04-mar-2013 18:50:08 (21:50:08 UTC); pos-processamento aumento contraste; L4 +5.47 ° Alt; Sol -11.14 ° Alt

Então, a dificuldade ficou por conta de encontrar um local, até que a Renata (magnífica amiga, hehe) cedeu-nos a privilegiada visão do poente que sua varanda desfruta! Melhor que isso, só estando bem longe da poluição lumionosa, que sempre é grande inimiga.

A foto abaixo é uma composição de 4 fotos, obtidas com os mesmos parâmetros da foto anterior:

(Passe o mouse sobre a foto)

Abaixo, composição de 6 imagens, idem:

Até 3-mar L4 ganhava altura no céu. Depois disso passou a perder altura rapidamente. A janela de observação deve se fechar em poucos dias.

Visitante longínquo

De 20 de fevereiro até 07 de março deste ano (2013) teremos nova oportunidade de acompanhar a passagem de um cometa. É uma janela aproximada, para quem encontrar-se em latitudes ao redor dos 20 º sul. Durante esses dias, pegue uma cadeira e acompanhe o por do Sol até pouco antes do início da noite: um cometa estará ligeiramente a esquerda do local onde o Sol se esconde.

Trata-se do C/2011 L4 PANSTARRS. Embora previsão de brilho de cometas seja matéria conhecidamente pouco confiável, os melhores números das tábuas apontam para valores perto de magnitude zero. Isso é mais brilhante que a Estrela de Magalhães, a Acrux (o “pé” do Cruzeiro do Sul), o que justifica o burburinho que anda causando nos fóruns de astronomia. Já o verdadeiro alvoroço fica por conta do C/2012 S1 ISON (novembro/2013), cuja previsão de brilho é realmente impressionante, mas deixemos isso para mais adiante.

L4 hoje já é um objeto passível de ser visto a olho nu durante os últimos instantes da madrugada e início do alvorecer. Não permanecerá aí por muito tempo, pois já está mergulhando na claridade da manhã e fazendo sua transição do céu da madrugada para o céu do entardecer. As fotos abaixo mostram o que pude conseguir debaixo da grande poluição luminosa da cidade.

Essa foto é uma composição de duas imagens. As contas em forma de colar formada pelas estrela no alto da foto é a constelação Corona Australis, a Coroa Austral. Fácil notar a dificuldade de se encontrar algo com magnitude em torno de 5 quando a poluição luminosa reina. Por acaso, as luzes de um avião deixaram um linha que indica a posição aproximada do cometa. Aumentar o contraste da foto parece não ajudar muito:

Um recorte, ampliando e invertendo a imagem, mostra o L4 (indicado no círculo).

Abaixo, composições de 4 e 3 imagens, respectivamente. Nota-se que, além da poluição luminosa, algumas nuvens também contribuiram para dificultar o registro.

Legendas:

O final da noite trouxe outro alvo difícil de ser fotografado: A Lua em seu último dia de minguante, com apenas 1,3 % da superfície visível iluminada.

Em outro acaso, a ISS (International Space Station) também surgiu e deixou registrada sua passagem, um traço no canto inferior esquerdo da foto seguinte:

O sobrevivente

C/2011 W3 – ou simplesmente Lovejoy – é o nome do cometa que sobreviveu por mais de uma hora a um dos ambientes mais agressivos que temos pelas redondezas: a coroa (corona) solar.

Lovejoy é um rasante-solar, considerado um “irmão” do Ykeya-Seki, o grande cometa de 1965 e tido como provável mais brilhante do último milênio. Chamados irmãos por derivarem de um mesmo objeto, um cometa verdadeiramente grande que se partiu há tempos remotos e deixou incontáveis fragmentos de não menos incontáveis tamanhos, todos seguindo uma órbita muito próxima a do cometa “pai”, gerando uma “família” de cometas rasantes-solares.

A cada semana, dois ou mais desses fragmentos menores são captados pelos olhos eletrônicos de sondas espacias que vivem para espreitar o Sol. Praticamente todos têm o mesmo destino: serem vaporizados. Um instante que finaliza uma existência de, provavelmente, bilhões de anos.

Se considerar que nossa estrela tem um diâmetro equivalente a duas unidades, o raio solar terá uma unidade. Um rasante-solar desses não passa a mais de 1,2 raios solares do astro-rei. É essa região, dominada por temperaturas que chegam a casa do milhões de graus celsius, acrescida da intensa radiação recebida de um sol tão próximo que faz o trabalho de subtrair mais um cometa dos céus. Nos momentos finais, os mini-cometas, que nunca foram registrados antes por qualquer instrumento humano, viram alvo fácil pois passsam a brilhar intensamente até desaparecem.

Quase todos seguem a mesma trilha. Os fragmentos maiores contam histórias diferentes. Ikeya-Seki foi um deles. Também o grande cometa de 1843 e outros. Desafiam o Sol, aproximam-se e o contornam para então retornarem aos confins do sistema solar. E nessa passagem deixam seus nomes em toda sorte de registros humanos, dos antigos aos novos, como o grande cometa que brilhou, dominou os céus e as atenções, surpreendeu e assustou, ficou visível durante o dia.

Dez entre dez especialistas apostavam que Lovejoy, apesar de um pouco maior, seguiria o destino de sucumbir ao Sol. Mas o C/2011 W3 veio para contar a sua própria história. No dia 16dez2011 contornou o Sol e não só sobreviveu, mas ressurgiu do outro lado ainda mais brilhante. Novamente, muita gente ficou espantada enquanto outras tantas precisam ainda explicar como um objeto desses resistiu aos milhões de graus celsius por mais de uma hora.

Fato é que, logo após contornar o Sol, Lovejoy tornou-se um objeto observável para os habitantes do hemisfério sul do nosso planeta, durante os momentos que antecedem o amanhecer. E posso dizer que em mais de 20 anos ele é, se não o maior, dos maiores cometas observáveis nesse hemisfério, embora não seja o mais brilhante.

Curioso como um objeto assim não tenha atraído sequer uma fração da atenção despertada pelo famoso cometa Halley, em 1986, cuja aparição foi infinitamente menos interessante. Sem contar o simbolismo natalino incorporado pelo Lovejoy. Uma justificativa é a de que a poluição luminosa das cidades praticamente impede sua visualização, mas com um brilho ligeiramente superior ao da Via-Lactea e mais de 15 graus de extensão da cauda de poeira, é objeto impressionante para qualquer zona, mesmo que apenas ligeiramente afastada dos centros urbanos. Nos céus estrelados do interior, torna-se espetáculo garantido.

Entretanto, a fase mais brilhante já passou. O cometa está afastando-se do Sol e perde brilho rapidamente, desaparecendo gradativamente à medida que os dias se sucedem. Enquanto isso não ocorre definitivamente, acordar uma hora antes do Sol nascer e um céu com pouco poluição luminosa é o suficiente para observar a mais nova “Estrela de Belém”, até que retorne… daqui a 678 anos!

O cometa Lovejoy visto de uma zona com poluição luminosa média. Foto sem pós-processamento, registrada com ISO800, F3.5, exposição de 30 segundos.

Imagem composição (3 fotos), pós-processada. A estrela mais brilhante na parte inferior esquerda é Antares, alfa de Escorpião. As duas estrelas mais brilhantes na parte superior, logo a direita da cauda do cometa são, de baixo para cima, alfa e beta Centauri (depois do Sol, alfa-Centauri é a estrela mais próxima da Terra). A cauda do cometa está sobre uma região da Via-Lactea.

Foto durante o amanhecer, ISO800, F3.5, exposição de 30 segundos, pos-processada. O ponto brilhante mais baixo e na parte esquerda dessa foto é o planeta Mercúrio (Antares está logo acima e a direita do planeta)