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Protandria em Impatiens
Resta então o fruto que desenvolverá as sementes… ou se perderá.
A ocorrência da fecundação depende de interações e sincronismo que a natureza vem cuidando de manter através dos tempos.
Mas em qual momento ocorre a polinização?
Voltemos alguns quadros. Quando a flor abre (antese) pode-se notar que há no centro uma pequena protuberância, uma espécie de cápsula com uma fenda. Abaixo dela vemos a entrada do tubo nectário.
Nessa estrutura encontram-se as anteras, de onde são gerados os grãos de pólen. Com a antese, a fenda das anteras começa a abrir (deiscência das anteras) e só então ocorre a liberação do pólen.
Pouco no início, a liberação passa a aumentar e após 24 horas já é abundante: a flor parece viver uma fase totalmente masculina.
A polinização é a transferência dos grãos de pólen das anteras para os estigmas – parte do órgão masculino (androceu) e feminino (gineceu) da flor.
Mas onde estão os estigmas? Como polinizar manualmente a flor de Impatiens?
Cerca de quarenta e oito horas depois da abertura da flor, o segredo começa a ser desvendado.
A estrutura das anteras e todo o androceu entra em colapso e, em um sobressalto, revela que ele próprio recobria sua porção complementar: vemos então o carpelo (estigma, estilete e ovário).
A estrutura masculina, que recobria a feminina, rompe-se da flor em sua base e começa a desidratar-se iniciando uma ruptura longitudinalmente, de baixo para cima, até que se desprenda definitivamente como se fosse ejetado.
É quando podemos ver um carpelo novo em flor, com um estigma ainda não receptivo: a flor parece viver agora sua fase feminina.
O estigma começa então a abrir-se como uma flor em miniatura.
O surgimento da “flor” de uma flor é o sinal para a polinização.
A maturação do estigma ocorre bem depois da maturação do grão de pólen: você presenciou a protandria em Impatiens.
Esses processos que dificultam a fecundação de uma flor pelo seu próprio pólen são mecanismos de auto-incompatibilidade. Eles têm sustentação no modelo evolucionário.
As várias faces de Impatiens
A extrema facilidade de enraizamento – uma única folha colocada em água gera raízes em pouco tempo – aliada a um sistema eficaz de dispersão de suas sementes já a colocariam como candidata em qualquer lista de invasoras potenciais. Junte-se a isso o clima favorável que encontrou por aqui e mais uma planta introduzida avança sobre matas e parques brasileiros.
Em Invasões Biológicas – Conservação da Biodiversidade – USP, vemos um gráfico (pág. 17) que mostra seu avanço desenfreado sobre a mata nativa, sem qualquer indício de que a fase de estabilização tenha iniciado. De fato, até mesmo a fase de naturalização não está bem delineada: a planta parece ter entrado direto na fase de invasão, sem escalas.
Andei “arrecadando” Impatiens de cores variadas diretamente das matas invadidas, em um raio de mais ou menos 300 km. É comum ver quilômetros seguidos das margens das rodovias sendo coloridas por beijos.
Mudando de lista… quão bela uma invasora pode ser?
Coleus e suas folhas-flores
Se assim for, algo semelhante poderia ser escrito para as folhas do Coleus…
Não são flores. Nem veludo tampouco. Do lado de cá da ponte, o mundo das formas conta uma verdade que nos parece bem menos convincente.
(*) Veja: Um novo mundo, Tolle, Eckhart.
Cores em flocos
Seria interessante se conseguíssemos vislumbrar a beleza de uma flor por sua semente?
Talvez. Mas sempre há um certo encanto em colocá-las para germinar e ver o desenrolar de todo o processo. Estas acima são de Phlox drummondii e mais parecem a fase “patinho feio” dos delicados e coloridos buquês que, se tudo correr bem, formarão.
Eis o que acontece quando entregamos um pouco de terra e água aos pequenos grãos: onze dias depois elas despertam… e quase ouvimos bocejos!
Árvore do Colibri
Há bem pouco tempo, antes mesmo de fazer essas fotos, plantas, flores e tais eram para mim seres especiais: fantásticos em sua natureza, exóticos em seus nomes. Tirando uma Acácia alí, um Flamboyant aqui, quase todas eram desconhecidas. Flores? Talvez uma rosa.
Há muito tempo, um senhor que tinha o hábito de plantar qualquer semente que cruzasse seu caminho acabou por transmitir, de certo modo, esse costume. O Semeador talvez até soubesse o nome de algumas espécies, mas isso ele não passou.
Havia uma especial… cujo nome ele não conhecia.
Mesmo assim, como de hábito, mais um pé de “não sei o que” começa a brotar no terreno. Ficava praticamente em frente, no jardim, mas para quem plantava de tudo, era um jardim nada convencional…
Cresceu. Como as rajadas de vento, tal ondas quebrando, que costumavam açoitar a noite serena lá fora, ela também anunciava que avizinhava-se o Natal. Seu aviso era exuberante, dado por intensas floradas. Era como se respirássemos um ar diferente, renovado. Árvore que dorme à noite. Flor que desperta.
Estas flores guardam substância essencial e muito apreciada por colibris, mas sua abertura tardia quase fazia valer o feitiço de Áquila. Então, era sempre aquele desespero, tanto ao anoitecer como ao amanhecer, mas nesses breves instantes eles sempre se encontravam. E daí que passamos a chamá-la de “árvore do colibri”.
Talvez existam muitas por aí com história semelhante, mas aquela era a nossa árvore do colibri. E o Semeador não viveu para saber qual seria o seu nome exótico, dado pelos homens sábios. E, cá entre nós, como profundo conhecedor da língua que era, suspeito que até teria gostado.
Afinal, a árvore do colibri era uma Calliandra!