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Phoebis: o ser que nasce duas vezes
Exceto pela cor, um ovo de Phoebis sennae – Lepitoptera da família Pieridae, ou seja, uma borboleta – teria pouca chance de chamar atenção.
Já assim entrega sua contribuição…
A postura é intensa, ovos são depositados durante alguns dias e em praticamente todos os botões e flores.
Como sinalizado pelo próprio nome, a Senna é a hospedeira da Phoebis sennae.
Passado mais um dia, anéis escuros surgem no corpo da lagarta. E uma dúvida: a flor da Senna não dura muito na árvore e o momento em que se desprende não parece ser tão “previsível”. Embora uma lagarta talvez tenha apurado sentidos para tal, espantou-me a tranquilidade com que repousava e se alimentava sobre as flores, como se este fosse o local mais seguro do mundo. O mistério foi resolvido ao observar que as flores que haviam sido quase totalmente devoradas continuavam alí penduradas: a lagarta faz alguns percursos rodeando a flor, pedicelo e galhos deixando uma teia bem fina que serve de sustentação. A engenharia sustenta a flor de forma a não deixá-la cair mesmo após murchar, com o peso da lagarta e ainda sob ventos. Parece que aí reside a confiança da lagarta em deleitar-se sobre flores que, de outro modo, logo estariam no chão.
Abaixo, um indivíduo mais novo. A floração que ainda resta é bem pequena e, tendo sua irmã como concorrente, não parece que sobrarão flores suficientes para alimentá-la …
O relógio biológico dispara seus sinais e então a lagarta terá pouco tempo para completar suas duas últimas tarefas: encontrar o local ideal para fixar-se e efetuar sua última “muda” (troca do exosqueleto), que culminará na formação da crisálida.
As intensas alterações ocorridas parecem agora dar lugar à calmaria. Nesta fase, a capacidade de movimentar-se é reduzida ao mínimo e o que se vê seria bem melhor descrito como uma folha que qualquer outra coisa.
Bem, isso é o que parece. Uma fina camada separa sua aparente calma exterior de um conturbado e frenético mundo interior. Os últimos sete dias marcaram profundas mudanças. Mudanças que irão alterar o habitat e todo estilo de vida de até então. Novos órgãos foram criados, todos desenhados para cumprir a dura tarefa de sobreviver e perpetuar-se no novo mundo. São asas, aparelho sugador especializado para o néctar, sensores nas patas, antenas ultra-sensíveis, olhos compostos e que enxergam ultravioleta, desenhos identificadores do gênero e de alerta e a capacidade de reprodução.
Quanto tempo leva uma lagarta para voar?
Infinito para ela, nove dias para nós. A natureza reserva ainda alguns segredos antes de libertá-la do casulo: aguarda a chegada das horas mais serenas da madrugada, para evitar os algozes.
Um par de horas antes a membrana torna-se cada vez mais translúcida até que a linha de ruptura se parte.
Esgueira-se por aí a mais nova borboleta do mundo.
Fonte (principal): http://en.wikipedia.org/wiki/Metamorphosis
– A metamorfose da Phoebis sennae é dita completa (holometabolismo)
– Para quem quiser acompanhar praticamente todo o processo, sugiro ver o vídeo de jcmegabyte.
E se quiser ver ao vivo, plante uma Senna!